Por que comemos ? Por que comemos tanto ? As respostas a essas perguntas não são as mesmas. Responder a primeira é fácil. E a segunda ?
Além de fornecer elementos à construção e manutenção de órgãos e tecidos, e energia para que os mesmos possam operar, o alimento tem um papel sócio-cultural e é fonte fácil de prazer.
Cada vez mais restritos às nossas casas, rotineiramente vinculando convívio social à comida, estamos estreitando os laços entre o desejo de bem-estar e o mundo da alimentação.
A história mostra que as reuniões sempre se deram ao redor das mesas. Toda comemoração acontece em torno de comida e bebida. Divide-se o pão no espírito da multiplicação da alegria.
Mas há algo de novo no reino alimentar: o comer tem se tornado mais solitário. Além de suprir necessidades naturais e se vestir de pretexto para reunir pessoas, o alimento está sendo consumido como anestésico, como remédio contra ansiedade, contra dores dos sentimentos, como tampão de emoções. Não requer receita médica, seu consumo é lícito, tem postos de venda sempre acessíveis, e variedade para todos os bolsos.
Está cansado ? – Comer relaxa.
Está tenso ? – Comer relaxa.
Está ansioso ? – Comer relaxa.
Está entediado ? – Comer relaxa.
Ajuda até a passar tempo quando ele parece não passar !
Ocupa espaço quando falta algo, ocupa lugar quando parecemos vazios. O alimento preenche.
Sob esses pretextos ninguém come verdura, ninguém devora uma bacia de salada ! Instintivamente procuramos alimentos que forneçam substâncias que inebriem, entorpeçam. Comemos não de acordo com necessidades nutricionais mas até que o relaxamento aconteça. Comemos até estar cheios = quando a quantidade de alimento é limitada pela ocupação do recipiente coletor chamado estômago: “não cabe mais”! Você deve conhecer esse filme !
Alguns alimentos contêm elementos que interferem na química cerebral proporcionando uma sensação sedativa - são os carbohidratos: açúcares, amidos, massas e doces.
Sua metabolização repercute na produção de um neurotransmissor que causa a sensação de bem-estar, exatamente como se ingeríssemos uma droga farmacêutica. Por isso buscamos instintivamente esses alimentos.
Sem perceber, criamos o hábito de aplacar tensões, reduzir ansiedade, encher vazios, matar tempo... com comida. É fácil. Está sempre à mão e momentaneamente parece funcionar.
Por um curtíssimo espaço de tempo some a raiva, evapora o problema.
Embarca-se, por alguns instantes, em conforto, tranqüilidade... que não demoram a se reverter em ansiedade, culpa, tensão...
Comer é bom, é muuuuito bom ! Mas, além de não ser a única opção de prazer, não é um bom analgésico. O efeito passa rápido... e,com freqüência, causa dor de cabeça depois !
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