O que é madurar ? Chegar ao ponto ?
Para a maioria, algo desagradável, indesejável, até temível... porque os padrões de sucesso e felicidade estão hoje muito relacionados ao frescor, à juventude.
Uma fruta só atinge seu ápice de sabor quando madura. Suas cores são vivas, sua textura é menos rija, sua doçura, máxima. Seguimos mais ou menos essa mesma evolução. Passamos por estágios que deveriam deixar para trás características de rigidez, substituindo-as por maciez e docilidade, tornando-nos criaturas mais fáceis de morder, mais tenras, mais ternas. Enquanto a casca começa a alterar sua superfície e ceder espaço para saliências e reentrâncias, a polpa fica mais concentrada e suas características mudam para melhor.
Madurar não é degenerar, não é perder o viço: a medicina está mudando a cara da maturidade. Não é possível, ainda, parar o tempo, mas ele já oferece outras conformações. Pode ter outros ritmos, dependendo - como roga a física - dos referenciais adotados. Hoje ele corre da gente, vivemos correndo atrás dele... mas é possível diminuir alguns de seus efeitos sobre nós. Quem se dá alguns cuidados de manutenção vai mais longe... e com aparência e energia de mais perto.
Falta mudar mentalidades: a ligação do senescer ao fenecer, ao perecer, ao padecer, ao apodrecer. Algumas outras culturas têm a compreensão que ainda nos falta e captam, mais que as mudanças externas, o valor das que se fazem dentro de nós - não na carne, mas no cerne.
A fruta verde cresce e altera seu conteúdo agregando em si sua história.
Suas experiências ficam gravadas nela, seu sabor é resultado de tudo pelo que passou. Saboreá-la madura é prova de sua superação como saborear a maturidade é prova de nosso crescimento.
É importante saber madurar ! A medicina pode auxiliar na manutenção de nossa estrutura, mas ainda depende de cada um encontrar e utilizar meios de produzir e conduzir sua própria seiva, de fornecer-se o mais rico de todos os alimentos : sabedoria.
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